terça-feira, 26 de julho de 2016

Da serie O Sonho Dourado da Ruína


A fotografia infravermelha capturou um mundo que não é deste. A ruína, outrora sólida e imponente, dissolve-se agora em tons de ouro velho e azul de sonho, como se a memória da pedra tivesse virado mel e céu. As paredes, desfiadas pelo tempo, brilham com uma luz que não é do sol, mas de um outro sol, invisível, que só as lentes fantasmagóricas sabem ver.

O céu é azul, mas um azul profundo, de um dia que nunca acabou, pontuado por nuvens brancas, estáticas, como algodão esquecido no firmamento. As árvores em volta são criaturas de outro mundo—as folhas não verdes, mas sim esbranquiçadas, como se a clorofila tivesse virado fantasma, e os ramos se estendessem em murmúrios pálidos contra o vento.

A imagem é silêncio. É um suspiro capturado em cores que não existem. E, no entanto, ali estão—dourados que cantam, azuis que sussurram, brancos que lembram. Um postal de um lugar que só existe quando fechamos os olhos.

Tudo aqui parece suspenso num sonho. A ruína não está abandonada—está à espera. À espera de quê? De um regresso? De um olhar que a reconheça, não como ruína, mas como um reflexo dourado e azulado de um tempo que teima em não morrer?

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Da serie O Sonho Dourado da Ruína


 A fotografia infravermelha capturou um mundo que não é deste. A ruína, outrora sólida e imponente, dissolve-se agora em tons de ouro velho e azul de sonho, como se a memória da pedra tivesse virado mel e céu. As paredes, desfiadas pelo tempo, brilham com uma luz que não é do sol, mas de um outro sol, invisível, que só as lentes fantasmagóricas sabem ver.

O céu é azul, mas um azul profundo, de um dia que nunca acabou, pontuado por nuvens brancas, estáticas, como algodão esquecido no firmamento. As árvores em volta são criaturas de outro mundo—as folhas não verdes, mas sim esbranquiçadas, como se a clorofila tivesse virado fantasma, e os ramos se estendessem em murmúrios pálidos contra o vento.

A imagem é silêncio. É um suspiro capturado em cores que não existem. E, no entanto, ali estão—dourados que cantam, azuis que sussurram, brancos que lembram. Um postal de um lugar que só existe quando fechamos os olhos.

Tudo aqui parece suspenso num sonho. A ruína não está abandonada—está à espera. À espera de quê? De um regresso? De um olhar que a reconheça, não como ruína, mas como um reflexo dourado e azulado de um tempo que teima em não morrer?

domingo, 17 de julho de 2016

Da serie Sonho Alentejano em Ouro e Azul


O prado estende-se como um manto dourado, tecido pela luz oblíqua do fim da tarde. Cada fio de erva brilha, não de verde, mas de um ouro surreal, como se o próprio sol tivesse desfeito em pó e derramado sobre a terra. A árvore, em primeiro plano, ergue-se com folhagem de âmbar translúcido, folhas que parecem feitas de chama fria, suspensas no ar quieto.

Ao longe, o lago é uma mancha de sonho—azul escuro, quase negro, como um espelho que reflete não o céu, mas o segredo do mundo submerso. A técnica do infravermelho transforma a realidade num devaneio: o Alentejo já não é só terra, é memória dourada, é paisagem de um conto adormecido. O horizonte dissolve-se numa névoa cálida, onde o dia se despede em tons de mel e saudade.

Tudo aqui é quietação. Tudo aqui é um suspiro antes do crepúsculo.